Empreendedorismo em Turismo Cultural e Paisagístico
26 de Fevereiro de 2013 – Grande Auditório do ISCTE-IUL
André Jordan
Antes de entrar no tema que me foi designado “A Contribuição do Turismo para o Crescimento Económico”, gostaria de referir a intensa actividade do ISCTE no estudo e no debate relacionado com o desenvolvimento económico e a internacionalização da economia portuguesa.
Tenho a honra de fazer parte do Conselho Geral desta casa, que é a universidade cujas finanças são as mais equilibradas de todas as escolas superiores do país, e dada a sua enfase no Turismo, mais uma componente, a da Educação, para a contribuição do Turismo para o desenvolvimento económico.
Tenho assistido nestes tempos de crise ao debate da austeridade versus desenvolvimento económico.
Como empresário, a minha interpretação de austeridade é a de economia de meios, da optimização dos recursos, materiais e humanos, do melhor emprego do tempo e do dinheiro para atingir uma boa produtividade, é a competitividade de preço e qualidade, é a contenção das remunerações das chefias com o objectivo de estreitar o leque salarial e é uma fiscalidade que não seja castradora do investimento. Também imprescindível é um aparelho estatal ágil e comunicativo.
Naturalmente a situação que vivemos tem razões que ultrapassam os factores acima citados, com raiz na orgia creditícia consequência da ausência de regulação e controlo dos mercados financeiros aos quais foi permitido fabricar dinheiro.
Não fosse esse último factor a crise do subprime teria ficado confinada ao sector imobiliário, sem contaminar toda a economia mundial.
Em Portugal, a premente necessidade de desenvolvimento económico é respondida com retórica; re-industrialização, aumento das exportações, energias alternativas, agricultura e outras quimeras que, não obstante o seu interesse, levarão muitos anos para terem impacto significativo no PIB e no emprego.
O único sector capaz de, a curto prazo, gerar receitas que sirvam para combater o desemprego e reestimular a economia é um que está nas nossas mãos accionar – o Turismo e a sua actividade subsidiária do Turismo Residencial.
Tem sido notável ao longo de 5 anos de crise a inércia que tomou conta deste sector, seja do lado privado seja do lado estatal, quando temos à nossa disposição uma infra-estrutura turística e residencial construída e com qualidade suficiente para disputar os mercados tradicionais e emergentes.
Portugal dispõe de factores essenciais para competir no mercado, tais como o clima, a gastronomia, a hotelaria e os serviços, bem como uma população civilizada e hospitaleira, o que resulta num dos mais altos índices de segurança entre os países da OCDE, facto nada desprezível nos tempos que correm.
A tudo isto se aliam preços muito competitivos, infelizmente actualmente competitivos demais o que por si só não tem sido argumento suficiente para obtermos altos índices de ocupação.
Já há alguns anos tenho procurado demonstrar que o estilo português- “The Portuguese Style” – representa, na actual conjuntura mundial, uma atractividade acrescida dada a necessidade e a vontade de importantes segmentos do nosso mercado natural, que é a classe média e a classe média/alta, de adoptar um estilo discreto que encontra dentro do nosso país condições favoráveis de conforto, bom gosto e cultura.
Onde é que falhamos?
Na falta de promoção, marketing e vendas.
É notória a pouca inclinação dos portugueses para vender, e a pouca compreensão no que respeita a avaliação do custo/benefício das despesas e investimentos necessários nesta área. Temos pouca expertise nestes temas e somos exageradamente económicos para recorrer ao know-how especializado externo.
Esta é uma área em que o barato sai caro, e quando a promoção é realizada com conhecimento pode haver uma optimização dos recursos.
Gostaria de dar como exemplo o crescimento exponencial de dois mercados que há 20 anos praticamente não existiam, e que hoje são concorrentes directos que absorvem uma parte substancial dos nossos potenciais clientes. Refiro-me a Marrocos, em especial Marraquexe, e à Turquia, e como exemplo cito o golfe.
Há 20 anos atrás em Marrocos havia 4 campos de golfe, e o seu mercado era essencialmente francês, actualmente existem 30.
O caso turco é ainda mais dramático. Há 20 anos não existia nem um campo de golfe.
Naquela altura fomos visitados na Quinta do Lago por um promotor imobiliário turco que manteve uma longa conversa sobre as técnicas comerciais desenvolvidas pela nossa organização com o então Director de Golfe José Lisboa. O resultado é que esse senhor implantou o golfe em Antalya, onde existem actualmente 17 campos e mais algumas dezenas por todo o país. Ainda há poucos dias, numa reunião em Londres com a PGA European Tour, tive a confirmação de que a Turquia tinha baseado na nossa organização a sua estratégia em relação ao desenvolvimento deste desporto.
Desde 2005 que tenho verificado que pelo sistema comercial que trabalhamos não temos registo do contacto dos milhões de golfistas que já passaram pelos campos portugueses e venho propondo a vários níveis, sejam das organizações privadas seja das autoridades do Turismo, a implementação de um esquema de fidelização “Loyalty card”, à semelhança das entidades hoteleiras, de aviação, e hoje em dia até supermercados e grandes lojas.
Permitimos o aparecimento de uma concorrência feroz, vital para a ocupação turística do Algarve no Inverno, situação agravada pela imposição do IVA a 23%, e temos que reagir com inteligência e rapidez, o que até agora não tem acontecido.
Quanto ao outro problema que tem tido algumas soluções parciais patrocinadas pelo Turismo de Portugal é a falta de conexões aéreas com importantes centros emissores de turistas de toda a Europa. Espero que os novos donos da ANA sejam sensíveis a esta preocupação.
No que se refere às medidas fiscais e de ordem legal quanto à atracção de novos residentes para Portugal temo que as acções em curso tais como o “Visto Dourado” e certas concessões de ordem fiscal venham a ser prejudicadas por acções similares de outros países concorrentes aos mesmos mercados.
Todas estas medidas são instrumentos e não motivadores da vontade das pessoas de viverem ou visitarem Portugal.
O importante é que através de uma divulgação inteligente que transforme Portugal atractivo, onde as pessoas queiram passar parte ou todo o seu tempo, um país cuja imagem transmita a ideia de elegância, da qualidade e da cultura, um país que seja um refúgio ao turbilhão do caos urbanístico, da insegurança e que apresente a imagem da estabilidade política, social e económica é o estatuto que devemos almejar.
Há 40 anos atrás, quando criámos a Quinta do Lago, juntamente com uma equipa exclusivamente constituída por portugueses, politica que sempre segui até aos dias de hoje, formando sucessivas vagas de profissionais e quadros, conseguimos atrair, transmitindo e divulgando os conceitos aqui expostos uma clientela selectiva e qualificada através da qual também chegaram a Portugal investimentos em outras áreas, motivados pelo conhecimento e afeição que desenvolveram em relação ao nosso país.
O valor presente dos empreendimentos realizados pelo nosso Grupo é estimado em 4 mil milhões de euros.
Antes de terminar quero fazer uma referência ao tema que rege esta conferência, ao referir a importância inegável da cultura para o turismo. Diria mesmo que é uma das áreas mais rentáveis que podemos desenvolver em várias vertentes.
Cito aqui não só o grande sucesso da exposição da Joana Vasconcelos em Versailles como também uma experiência que tive com a minha mulher num táxi em Roma, quando passando por uma zona com muitas ruinas ela comentou “Não sabia que havia tantas ruinas em Roma” e o taxista virou a cabeça para trás e disse “Signora, questo e nostra fortuna”.
Tenho o prazer e a honra de ser membro do Conselho de Administração da Fundação de Serralves. Recentemente o Presidente da Fundação, Luís Braga da Cruz, encomendou à Universidade do Porto um estudo sobre a relevância de Serralves para a economia.
Os resultados são impressionantes. Serralves vale 40 milhões de euros para o PIB, contribui para a criação de 1296 empregos e conta com 96 colaboradores, recebe 4 milhões de euros de apoio estatal (49% da sua receita) sendo o restante receitas próprias e contribuições privadas e contribui com quase 11 milhões de euros para a receita fiscal. Recebeu em 2011 perto de 500.000 turistas pagantes.
Na apresentação deste trabalho, o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, fez uma importante comunicação da qual cito:
“O desenvolvimento não se faz só com capital ou com recursos humanos”, diz Carlos Costa; exige também, por exemplo, atitudes de respeito e confiança pelos outros. Há momentos na vida das sociedades em que esses substratos são sujeitos a “fracturas culturais que introduzem novas normas sociais”. E, neste processo de transformação, as instituições culturais assumem um papel primordial”.
… “entre as instituições inertes, as que se visitam, e as que interagem com o meio envolvente.” Ou, por outras palavras, “entre as que produzem cultura e as que a conservam. Serralves está na primeira categoria, precisou.
A influência da cultura no dinamismo económico acontece, de acordo com o pensamento de Carlos Costa, quando os artistas e as instituições culturais são capazes de promover “contextos de criatividade” ou “um ambiente de inquietude intelectual”. Porque, precisa, “não há transformação económica no meio da apatia”.
Encerro para dizer que a Fundação de Serralves foi constituída através de um modelo criado pela então Secretária de Estado da Cultura, Teresa Patrício Gouveia, implementado pelo então seu Presidente, João Marques Pinto, pela qual 175 empresas e instituições privadas portuguesas fazem parte do Conselho de Fundadores, através do qual foi possível desenvolver a Instituição ao nível de qualidade e prestígio de que hoje disfruta. Para além disso, algumas instituições financiam actividades de Serralves, principalmente pelo apoio de dois grandes beneméritos da Instituição que são Artur Santos Silva e Belmiro de Azevedo.
É importante assinalar através destes exemplos a contribuição proactiva do sector empresarial privado à cultura e às artes.
26.02.2013